terça-feira, 27 de março de 2018

A importância do Filósofo russo Alexander Aksakof para a Doutrina Espírita


Nascido em Repievka (Rússia) em 27 de maio de 1832 e desencarnado em S. Petersburgo, (atual cidade de Leningrado), a 4 de janeiro de 1903.

Dentre os grandes cientistas que se notabilizaram na investigação e análise dos fenômenos espíritas, nos últimos anos do século XIX, destaca-se a figura respeitável de Alexandre N. Aksakof, membro de tradicional família da nobreza russa, doutor em filosofia e conselheiro íntimo de Alexandre III, Tzar de todas as Rússias.

No desenrolar de sua mocidade, demonstrou acentuada tendência para uma vida de seriedade, palmilhando caminho diferente e revelando notáveis qualidades de investigador, preocupado com as coisas da alma e do mundo espiritual. Devido a essa sua inclinação, teve que enfrentar prolongados anos de vicissitudes espirituais e sociais.

Conquistando o pergaminho de doutor, enveredou pelos árduos caminhos que conduzem ao êxito no campo do conhecimento, tornando-se lente da Academia de Leipzig, na Alemanha.

Integrando-se resolutamente no campo da investigação psíquica, tornou-se diretor do Jornal "Psychische Studien", órgão publicado na Alemanha. Não satisfeito com o seu trabalho na direção desse órgão, lançou em Moscou, no ano de 1891, a revista de estudos psíquicos "Rebus", a primeira do gênero que apareceu na Rússia.

O seu nome já era bastante conhecido, como notável doutor em filosofia, quando sustentou viva polêmica com o filósofo alemão, Dr. Von Hartmann, no decurso da qual refutou, com sobeja superioridade científica e demonstrações irretorquíveis, as explicações do sábio alemão sobre os fenômenos espíritas, aos quais atribuía um fundo biológico.

Aksakof realizou numerosas experiências e observações no campo científico, tendo realizado trabalhos tão profundos, tão interessantes, que até hoje jamais foram excedidos em matéria de Espiritismo experimental. Para a consecução dessa finalidade, valeu-se do valioso concurso da célebre médium italiana Eusápia Paladino.

Com fundamento nesses trabalhos publicou na Alemanha o seu famoso livro "Animismo e Espiritismo", em dois volumes, obra de fôlego impressionante e insuperável em todo o mundo.

Participou ainda de elevado número de experimentação, valendo-se do concurso de médiuns famosos, do que resultou a divulgação do seu notável relatório da "Comissão de Professores", que se reuniu em Milão (Itália), no ano de 1892, a fim de dar parecer sobre os fenômenos observados na obscuridade, baseado nas considerações expressas pelo grande criminalista italiano, Cesare Lombroso, que a essa comissão se confessou envergonhado e condoído, em carta do próprio punho, escrita ao professor Ernesto Giolfi.
Dessa famosa comissão de professores fizeram parte os seguintes doutores: Alexandre Aksakof, lente da Academia de Leipzig, diretor do jornal "Psychische Studien" e conselheiro de S.M. o Imperador da Rússia; Giovanni Schiaparèlli — Diretor do Observatório Astronômico de Milão; Dr. Carl Du Prel — Doutor em Filosofia de Munique; Ângelo Brofferio — Professor de Filosofia; Giuseppe Gerosa — Professor de Física da Escola Real Superior de Agricultura de Porcini; G. M. Ermacora — Professor de Física; Giorgio Finzi — Professor de Física; Professor Chiaia; Charles Richet — Professor da Faculdade de Medicina de Paris e diretor da "Revista Científica"; e Cesare Lombroso, notável criminalista italiano.
Mais tarde com o valioso concurso dos médiuns Elisabeth d'Esperance e Politi, além da já mencionada Eusápia Paladino, Cesare Lombroso expõe, de forma definitiva, o resultado de suas experiências realizadas quinze anos depois. Esse trabalho de Lombroso corroborou de forma decisiva tudo aquilo que Aksakof havia descrito em sua obra.

O livro de Aksakof "Animismo e Espiritismo" foi uma réplica à brochura que o célebre filósofo alemão Eduardo von Hartmann — continuador de Schopenhauer — fez editar em 1885, abordando aspectos do Espiritismo.

A primeira edição alemã, subordinada ao título "Animismus und Spiritismus" foi publicada em Leipzig, no ano de 1890, provocando da parte do doutor Von Hartmann uma resposta à qual deu o título: "A Hipótese dos Espíritos e seus Fantasmas". No ano de 1891, ele voltou novamente, com bastante insistência, procurando reafirmar os argumentos que já havia exposto. Nessa época Alexandre Aksakof já estava com a saúde bastante combalida, entretanto, o sábio Carl Du Prel se encarregou de continuar a polêmica com aquele adversário tão temível.

No prefácio de sua monumental obra, retro citada, escreveu Aksakof: "Não pude fazer outra coisa mais do que afirmar publicamente o que vi, ouvi e senti; e quando centenas, milhares de pessoas afirmam a mesma coisa, quanto ao gênero do fenômeno, apesar da variedade infinita das particularidades a fé no tipo de fenômeno se impõe."

Escreveu ainda Aksakof, em fevereiro de 1890: "Interessei-me pelo movimento espírita desde 1855 e, desde então, não deixei de estudá-lo em todas as suas particularidades e através de todas as literaturas. Durante muito tempo aceitei os fatos apoiado no testemunho alheio; foi só em 1870 que assisti à primeira sessão, em um círculo íntimo que eu tinha organizado.

Não fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram realmente tais quais me tinham sido referidos por outros; adquiri a convicção profunda de que eles nos ofereciam — como tudo o que existe na Natureza — uma base verdadeiramente sólida, um terreno firme para a fundação de uma ciência nova que seria talvez capaz, em um futuro remoto, de fornecer ao homem a solução do problema da sua existência.
Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu estudo a atenção dos pensadores isentos de preconceitos."

Paulo Alves de Godoy e Antônio de S. Lucena - Personagens do Espiritismo




segunda-feira, 26 de março de 2018

O que tem a ver Beethoven, Schiller e Nietzsche?

                                                                               Retrato feito por Joseph Karl Stieler, em 1820

Há 191 anos, deixava este plano, o brilhante compositor alemão Ludwig van Beethoven. Exatamente no dia 26 de março de 1827, com apenas 57 anos de idade. Faz muito tempo, entretanto o artista é uma daquelas personalidades em que jamais deixaremos morrer a sua obra e o seu pensamento. 

Com um talento excepcional para a música, o garoto de apenas cinco anos iniciou suas aulas. Seu pai começou a lhe ensinar, com tanto rigor e brutalidade, que afetaria Beethoven pelo resto de sua vida. O pequeno Ludwig era açoitado, trancafiado e privado do sono para praticar por horas extras. E apesar ou mesmo por causa de tanto rigor, Beethoven se mostrou um músico extremamente talentoso e criativo desde a tenra idade. Seu pai queria que o filho fosse reconhecido como Mozart, e organizou seu primeiro recital em 26 de março de 1778. Apesar de ter tocado impressionantemente, o recital não recebeu muita atenção.


O que o filósofo Friedrich Nietzcshe falou mais adiante sobre o compositor:

"Encontra-se sempre, aqui e ali, algum semi-deus que consegue viver em condições terríveis, e viver vencedor! 


Quereis ouvir os seus cantos solitários? 


Escutai a música de Beethoven." 





"Symphony No. 9 in D Minor, Op. 125 "Choral": IV. Presto - Allegro assai - Chorale Finale (Ode To Joy)" por Philharmonia Slavonica, Bozena Ruk-Focic, Marco Dudzik, José Maria Perez, Choir of the Bratislava State Opera, Eugen Duvier and Maria Schillers, Philharmonia Slavonica, Bozena Ruk-Focic, Marco Dudzik, José Maria Perez, Choir of the Bratislava State Opera, Eugen Duvier, Maria Schillers

https://www.youtube.com/channel/UCAEUOkXI1qS5rIBO3hjhVew


Você sabia que a letra da música presente na 9ª Sinfonia de Beethoven é na verdade um poema, do qual o músico se encantava desde a adolescência, eternizando um de seus poetas favoritos (Friedrich Schiller) em uma das mais belas sinfonias de todos os tempos, a 9ª, conhecida também como Ode a Alegria.


Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
(Barítonos, quarteto e coro)
Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha de Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Teus encantos unem novamente
O que o rigor do costume separou.
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu vôo suave.
A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se conosco!
Sim, também aquele que apenas uma alma,
possa chamar de sua sobre a Terra.
Mas quem nunca o tenha podido
Livre de seu pranto esta Aliança!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao humilde
E o Querubim está diante de Deus!
(Tenor solo e coro)
Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóboda celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória.
(Coro)
Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóboda estrelada
Deve morar o Pai Amado.
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscais além da abóboda estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar.

Beethoven morreu em 26 de março de 1827, aos 56 anos e a autópsia concluiu que a causa da morte foi uma cirrose. O exame também indicou que, ao contrário de uma doença arterial, a surdez de Beethoven teria sido decorrente do tifo, que teria contraído no verão de 1796. Ainda mais recentemente, cientistas analisaram restos do crânio de Beethoven e acharam uma quantidade de chumbo que pode ter envenenado o músico. Essa teoria, no entanto, é altamente desacreditada.
Ludwig van Beethoven é considerado o melhor compositor de todos os tempos. E o fato de ele ter composto suas mais extraordinárias obras enquanto surdo o eleva a uma classificação de gênio super humano.
Túmulo de Ludwig van Beethoven em VienaÁustria.

https://seuhistory.com/biografias/ludwig-van-beethoven

https://acropolepoetica.wordpress.com/2017/01/28/ode-a-alegria-friedrich-schiller/



terça-feira, 20 de março de 2018

Fatores de Perturbação - Joanna de Ângelis

A segunda metade do Século 19 transcorre numa Eurásia sacudida pelas contínuas calamidades guerreiras, que se sucedem, truanescas, dizimando
vidas e povos.

As admiráveis conquistas da Ciência que se apóia na Tecnologia, não logram harmonizar o homem belicoso e insatisfeito,  que se deixa dominar pela vaga do materialismo-utilitarista, que o transforma num amontoado orgânico que pensa, a caminho de aniquilamento no túmulo.

Possuir, dominar e gozar por um momento, são a meta a que se atira, desarvorado.

Mal se encerra a guerra da Criméia, em 1856, e já se inquietam os exércitos para a hecatombe franco-prussiana, cujos efeitos estouram em 1914, envolvendo o imenso continente na loucura selvagem  que ameaça de consumição a tudo e a todos.

O Armistício, assinado em nome da paz, fomentou o explodir da Segunda Guerra Mundial, que sacudiu o Orbe em seus quadrantes.

Somando-se efeitos a novas causas, surge a Guerra Fria, que se expande pelo sudeste asiático em contínuos conflitos lamentáveis, em nome de ideologias alienígenas, disfarçadas de interesses nacionais, nos quais, os armamentos superados são utilizados, abrindo espaços nos depósitos para outros mais sofisticados e destrutivos...

Abrem-se chagas purulentas que aturdem o pensamento, dores inomináveis rasgam os sentimentos asselvajando os indivíduos.

O medo e o cinismo dão-se as mãos em conciliábulo irreconciliável.

A Guerra dos seis dias, entre árabes e judeus, abre sulcos profundos na economia mundial, erguendo o deus petróleo a uma condição jamais esperada.

Os holocaustos sucedem-se.

Os crimes hediondos em nome da liberdade se acumulam e os tribunais de justiça os apoiam.

O homem é reduzido à ínfima condição no “apartheid”, nas lutas de classes, na ingestão e uso de alcoólicos e drogas alucinógenas como abismo de fuga para a loucura e o suicídio.

Movimentos filosóficos absurdos arregimentam as mentes jovens e desiludidas em nome do Nadaísmo, do Existencialismo, do Hippieísmo e de comportamentos extravagantes mais recentes, mais agressivos, mais primários, mais violentos.

O homem moderno estertora, enquanto viaja em naves  superconfortáveis fora da atmosfera e dentro dela, vencendo as distâncias, interpretando os desafios e enigmas cósmicos.

A sonda investigadora penetra o âmago da vida microscópica e abre todo um universo para informações e esclarecimentos salvadores.

Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente perturbadoras.

A perplexidade domina as paisagens humanas.

A gritante miséria econômica e o agressivo abandono social fazem das cidades hodiernas o palco para o crime, no qual a criatura vale o que conduz, perdendo os bens materiais e a vida em circunstâncias inimagináveis.

Há uma psicosfera de temor asfixiante enquanto emerge do imo do homem a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela existência corporal.

Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou indiferente a ele.

Os distúrbios de comportamento aumentam e o despautério desgoverna.

Uma imediata, urgente reação emocional, cultural, religiosa, psicológica, surge, e o homem voltará a identificar-se consigo mesmo.

A sua identidade cósmica é o primeiro passo a dar, abrindo-se ao amor, que gera confiança, que arranca da negação e o irisa de luz, de beleza, de esperança.
A grande noite que constringe é, também, o início da alvorada que surge.

Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz.

Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento.

Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal.

(mensagem extraída do livro O Homem Integral, de Joanna de Ângelis)
Psicografia: Divaldo Pereira Franco

segunda-feira, 19 de março de 2018

Três teses equivocadas sobre os direitos humanos - Oscar Vilhena

Direitos humanos, direito de bandido?  

É muito comum encontrar pessoas que associam os direitos humanos com a defesa do crime ou ao menos dos criminosos. Esta associação não é fundada num simples equívoco, pois como os criminosos também são humanos, eles têm direitos. Se houve algo de revolucionário trazido pela Declaração Uni­versal de 1948, foi a idéia de universalidade dos direitos. Por universalidade entenda-se a proposição de que todas as pessoas. independentemente de sua condição racial. econômica, social, ou mesmo criminal, são sujeitos aos direitos humanos. Neste sentido bandidos também têm direitos humanos.
A afirmação. no entanto, é falaciosa, quando busca forjar a idéia de que o movimento de direitos humanos apenas se preo­cupa com o direito dos presos e suspeitos, desprezando os direi­tos dos demais membros da comunidade.

Esta falácia começou a ser difundida no Brasil, no inicio dos anos oitenta, por intermédio de programas de rádio e tablóides policiais. Como os novos responsáveis pelo combate à crimina­lidade no início da transição para a democracia haviam sido fortes críticos da violência e do arbítrio perpetrado pelo Estado. houve uma forte campanha articulada pelos que haviam patro­cinado a tortura e os desaparecimentos. para deslegitimar os novos governantes que buscavam reformar as instituições e pôr fim á práticas violentas e arbitrárias por parte dos órgãos de segurança. Era fundamental para os conservadores demonstrar que as novas lideranças democráticas não tinham nenhuma condição de conter a criminalidade e que somente eles eram capazes de impor ordem á sociedade. Mais cio que isso, os con­servadores jamais toleraram a idéia de que os direitos deveriam ser estendidos ás classes populares de que, qualquer pessoa, independentemente de sua etnia, gênero, condição social ou mesmo condição de suspeito ou condenado, deveria ser respei­tada como sujeitos de direitos.

Outro objetivo desse discurso contrário aos direitos huma­nos, não apenas no Brasil, foi, e ainda é, buscar criar um conflito dentro das camadas menos privilegiadas da população, eximindo as elites de qualquer responsabilidade em relação à criminalidade. Ao vilanizar os que comentem um crime, como se tosse um ato estritamente voluntário, dissociado de fatores sociais, como desigualdade. fragilidade das agências de aplicação da lei, desemprego ou falta de estrutura urbana, jogam a população vítima da violência apenas contra o criminoso, ficando as dites isentas de responsabilidades, pela exclusão social ou pela omissão do Estado, que impulsiona a criminalidade. 

Nesse contexto, associar a luta pelos direitos humanos à defesa de bandidos foi uma forma de buscar manter os padrões de violência perpetrados pelo Estado contra os negros e os pobres, criminosos ou não...

E evidente que, ao se contrapor a toda a forma de exclusão e (opressão, o movimento de direitos humanos não poderia deixar de incluir na sua agenda a defesa da dignidade daqueles que se encontram envolvidos com o sistema de justiça criminal. Isto não significa. porém, que o movimento de direitos humanos tenha se colocado, a qualquer momento, a favor do crime; aliás a luta contra a impunidade tem sido uma das principais bandei­ras dos militantes de direitos humanos. No entanto, esta luta deve estar pautada em critérios éticos e jurídicos, estabelecidos pelos instrumentos de direitos humanos e pela Constituição, pois toda vez que o Estado abandona os parâmetros da legalidade, ele passa a se confundir com o próprio criminoso, sob o pretexto de combatê-lo. E não há pior forma de crime do que aquele organizado pelo Estado.

Por fim, é fundamental que se diga que o movimento pelos direitos humanos tem uma agenda bastante mais ampla do que a questão dos direitos dos presos e dos suspeitos. Não seria Incorreto dizer que hoje a maior parte das organizações que advogam pelos direitos humanos estão preocupadas primordialmente com outras questões, como o racismo, a exclusão social, o trabalho infantil, a educação, o acesso à terra ou à moradia, o direito à saúde, a questão da desigualdade de gênero etc. O que há de comum corre todas essas demandas é a defesa dos grupos mais vulneráveis. Embora os direitos humanos sejam direitos de todos, é natural que as organizações não governamentais se dediquem à proteção daqueles que se encontram em posição de maior fragilidade dentro de uma sociedade.

Direitos humanos dificultam o trabalho das polícias


Durante muito tempo acreditou-se que havia uma incompa­tibilidade entre direitos humanos e segurança pública. E evi­dente que as diversas garantias atribuídas aos suspeitos e aos réus em um processo judicial tornam mais onerosos o trabalho daqueles que tem por missão responsabilizar os criminosos. A investigação tem que ser mais criteriosa, as provas têm que ser colhidas cuidadosamente, as prisões só devem ser feitas com ordem judicial ou em flagrante delito, ao réu deve ser garantida a ampla defesa, o policiamento tem que se pautar em regras determinadas, tendo como limite as diversas liberdades dos cidadãos. Tudo isto sob o escrutínio judicial. Estas restrições, no entanto, paradoxalmente podem favorecer um sistema de segurança pública eficiente.

O trabalho da polícia está fundamentalmente estruturado em duas atividades: prevenção e repressão. Para que ambas as ativi­dades possam ser minimamente eficazes, as polícias dependem de uma mesma coisa: informação.

Por mais que os meios tecnológicos venham auxiliando o trabalho das polícias, o que verdadeiramente favorece a anteci­pação da atividade criminosa é a boa informação. Informação confiável e rapidamente transmitida àqueles que têm poder para tomar decisões é o instrumento mais eficaz à prevenção policial da criminalidade.
Da mesma forma, sem informação fidedigna, a policia difi­cilmente inicia qualquer investigação Sem que alguém tenha visto uma pessoa rondando uma casa e esteja disposta a dizer isso à polícia, de nada servem computadores, rádios ou perícia técnica. Esses instrumentos só entram em campo quando há alguma forma de suspeita, o que se dá por intermédio de infor­mação. Boa informação.

De que forma as polícias podem ter acesso a esse elemento tão precioso na realização do seu trabalho? Um primeiro modo é por intermédio da coerção ou da extorsão: tortura, vio­lência, ameaça, ou dos famosos gansos, que são criminosos que vendem informações para as polícias. Estas informações, além de imoralmente conseguidas, normalmente são de baixa quali­dade, pois as pessoas sob coerção tendem a falar aquilo que o algoz quer e não necessariamente a verdade. Por outro lado, a informação vinda de criminosos depende da garantia de que os mesmos permanecerão impunes.

Uma segunda maneira de se obterem informações é a voluntariedade. Quando a população confia em sua polícia, esta é procurada por quem tem alguma suspeita, ou por alguém que testemunhou algo e quer contribuir numa investigação. Quando a população teme ou desconfia da polícia, especialmente a população mais vulnerável, ocorre uma ruptura no fluxo de informações e consequentemente uma redução da eficácia policial.
Para que a população confie na polícia é necessário que esta respeite a população, e os termos desse respeito são dados pelas regras de direitos humanos e pelo padrão de honestidade dos policiais. Quando se sabe que a polícia viola sistematicamente os direitos de jovens, de negros e da população mais carente em geral, dificilmente esta irá confiar na policia, quando forem vítimas, testemunhas e mesmo portadoras de alguma informação relevante para coibir o crime. Quando a policia é desonesta, também fica a população temerosa de fornecer qualquer infor­mação que pode lhe colocar em risco no futuro.
A percepção por parte da população de que a policia respeita os direitos humanos, é honesta e trata as pessoas de forma justa é indispensável na construção de boas relações com a comunidade, sem o que não há bom fluxo de informações. Destaque-se que não há polícia eficiente em qualquer lugar do mundo que não seja respeitadora dos direitos humanos. Nesse sentido os direitos humanos ao invés de constituírem uma barreira á eficiência policial, oferecem a possibilidade para que o aparato de segurança se legitime face a população e consequentemente aumente a sua eficiência, seja na prevenção, seja na apuração de responsabilidades por atos criminosos.

Direitos humanos ameaçam nossa soberania


Não é incomum ouvirmos por parte de autoridades e de seg­mentos mais nacionalistas da população a queixa de que, a ação do movimento de direitos humanos é parte de uma cons­piração internacional voltada a limitar nossa soberania; de que a Anistia Internacional, ou outras entidades internacionais de defesa dos direitos humanos, não dispõem de qualquer legiti­midade para monitorar a atuação de nossas autoridades em relação as suas práticas no que se refere aos nossos cidadãos; de que essa é uma questão que só diz respeito ao Brasil, não devendo o Brasil ficar exposto internacionalmente.

Não é impróprio lembrar que o movimento de direitos huma­nos surge a partir da Segunda Guerra Mundial, que teve como produto a morte de mais de 45 milhões de pessoas. Um dos aspectos mais perversos dessa catástrofe humanitária é que a maioria das vítimas foi morta pelos seus próprios Estados. Foram alemães mortos pela Alemanha, Russos mortos pela Rússia. Evi­dente que esses nacionais exterminados pelo aparato bélico e de segurança de seus Estados eram discriminados, em face de suas religiões, etnias ou posições políticas. O fato é que isso demons­trou que os Estados não poderiam ser os únicos fiadores da segu­rança e da dignidade de seus cidadãos. A violação dos direitos de um brasileiro ou de um alemão não deve ser apenas um pro­blema para os seus compatriotas. 

Se partimos do pressuposto de que temos direitos pelo simples fato de sermos humanos, a violação dos direitos de qualquer pessoa deve ser um problema de todos. Trata-se de uma agressão à toda a humanidade, e, por­tanto, é legítimo que pessoas de outras partes do mundo se pre­ocupem com o que ocorre no Brasil ou na Alemanha.
Por outro lado, é necessário refletir um pouco sobre o signifi­cado de soberania e da sua abrangência. A soberania surge como uma doutrina de justificação do poder absoluto do Estado, não só face à comunidade internacional, mas também em relação a outros poderes domésticos. No inicio do século XVI era importante afirmar a autoridade do Estado face ao poder da igreja ou dos impérios, assim como dos senhores feudais. Com o tempo percebeu-se que a concentração do poder absoluta nas mãos do Estado havia se transformado numa ameaça constante aos seus próprios súditos, tanto que com as revoluções americana e fran­cesa a soberania passa por um processo de domesticação, ou seja, busca-se a sua limitação por intermédio de constituições e declarações de direitos. 

Desta forma o exercício da soberania só será legítimo se capaz de respeitar os direitos das pessoas. A soberania passa então a estar a serviço das pessoas e não dos Estados. Com a democracia, completa-se a inversão do sentido da soberania, pois ela não mais é concebida como um atributo do príncipe mas do cidadão. É o cidadão que detém o poder sobre sua própria vida e que deve determinar ao Estado de que forma se comportar. li nesse momento que deixamos de ser súditos e passamos a cidadãos.
Nesse sentido, quando o nosso Estado viola o direito de um cidadão, é ele que está agindo contra a soberania popular. Se para buscar evitar essas práticas a comunidade internacional se mobiliza e denuncia um Estado, na realidade, a sua ação busca favorecer os cidadãos daquele Estado, ou seja, a soberania popu­lar em detrimento da soberania absoluta. Assim, reagir à solidariedade internacional em nome da soberania só favorece aque­les que querem um ambiente de impunidade para que possam tranquilamente violar direitos humanos.

conclusão

A gramática dos direitos humanos está fundada no pressu­posto moral de que todas as pessoas merecem igual respeito umas das outras. Somente a partir do momento em que formos capazes de agir em relação ao outro da mesma forma que gos­taríamos de que agissem em relação a nós é que estaremos con­jugando essa gramática corretamente. Os argumentos de que direitos humanos são direitos de bandidos, de que atrapalham a atuação das polícias ou de que minam a soberania do Estado buscam destruir essa lógica. Aderir a qualquer desses argumen­tos significa assumir a proposição de que algumas pessoas tem mais valor, outras menos, e de que ao Estado e seus funcionários cabe fazer a escolha de quais deverão ser respeitadas e quais poderão ser submetidas à exclusão, à tortura, à violência e à discriminação.

Oscar Vilhena é Pós-Doutor pelo Centre for Brazilian Studies - St. Antonies College, Universidade de Oxford (2007), Doutor e Mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1998-1991), Mestre em Direito pela Universidade de Columbia, Nova York (1995) e Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988). É Diretor da DIREITO SP, onde leciona nas áreas de Direito Constitucional, Direitos Humanos e Direito e Desenvolvimento. Foi Procurador do Estado em São Paulo, Diretor Executivo do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Crime (ILANUD), assim como fundador e Diretor da organização Conectas Direitos Humanos. É colunista do jornal Folha de São Paulo e membro de diversos conselhos de organizações da sociedade civil, entre os quais Instituto Pro Bono e Open Society Foundations (OSF). Na advocacia, tem se concentrado em casos de interesse público junto ao Supremo Tribunal Federal.

terça-feira, 6 de março de 2018

André Balaio lança “Quebranto” dia 10 de março


No dia 10 de março, o escritor e roteirista André Balaio lança seu primeiro livro. “Quebranto” reúne 13 contos de literatura fantástica como o premiado “O lado de lá” na categoria conto na OFF Flip em 2016.


André Balaio, escritor, roteirista e cofundador do site O Recife Assombrado, lança treze histórias que levam o leitor para um passeio pelo terreno movediço e misterioso do sobrenatural e do insólito.

Embora escreva há anos, André demorou a sentir que estava pronto para trilhar um caminho independente e ter um livro só seu. O processo de amadurecimento o levou a publicações coletivas e a procurar  o apoio e mentoria de escritores como Raimundo Carrero, Sidney Rocha, Marcelino Freire e Paulo Caldas.

Desde 2000 ele coleciona lendas e causos de malassombros em seu site, mas é possível perceber que nessa obra Balaio assume uma voz própria para complementar o universo da Literatura Fantástica. “Os contos não seguem a linha do terror comum. Eu uso o sobrenatural para criar metáforas sobre sentimentos como culpa, raiva e tristeza”, afirma o autor.



“Quebranto” é uma reunião de narrativas fortes em que o fantástico e o insólito aparecem como fissuras na aparente normalidade de seus personagens. Após ler o livro, Marcelino Freire ressaltou que, embora fosse uma obra de literatura fantástica, o melhor dos contos era justamente a construção dos personagens.

A obra conquistou o terceiro lugar no concurso literário internacional da União Brasileira de Escritores (UBE–RJ) no último ano, assim como foi finalista no Prêmio Nacional Sesc de Literatura de 2017 (sob o título “Noite Cega”) e também no Concurso Literário Nacional CEPE 2017.

Em 2016, André já havia sido vencedor do prêmio literário Off Flip na categoria “Conto” com a história de fantasmas “O lado de lá”, que faz parte da coletânea.

O livro está sendo lançado pela Patuá, editora independente de São Paulo responsável por algumas das melhores publicações dos últimos anos, entre as quais obras da premiada escritora pernambucana Micheliny Verunschk, que também assina a orelha do livro.

O lançamento será na charmosa Casa Cultural Vila Ritinha – casarão do século 19 localizado na Boa Vista que hoje é um café e centro cultural – no sábado, 10, das 17h às 21h. Durante o evento, o escritor Sidney Rocha (responsável pelo texto de apresentação na contracapa) e o ator, diretor e escritor Marcello Trigo farão leituras de trechos do livro

A entrada é gratuita e o exemplar será vendido por R$ 40.

Trecho do conto “Quebranto”

Na estrada vicinal, passou a ponte sobre um leito de rio seco e virou no caminho estreito após um trecho de mata, dobrou à direita e viu outra ponte feita com ripas de madeira transversais idêntica à anterior. Parou o carro e observou. Era a mesma ponte. O suor escorria e não aparecia ninguém a quem perguntar. Seguiu. De novo os arbustos, a estradinha de terra, novamente a ponte, a mesma ponte. Estava em círculos.
Surgiu na curva uma carroça puxada por um pangaré, tão magro quanto o velho de barba branca, chapéu de palha e fumo no canto da boca que a conduzia. Veio devagar na direção do carro. Lorena desceu e balançou as duas mãos para que parasse. Já não acreditava que encontraria o lugar, queria ao menos achar o caminho de volta. O homem era igual, igualzinho a Sebastião, o empregado da fazenda. Sebastião, é você?

Ele não respondeu, apenas apontou para uma casinha logo na frente, quase invisível no meio de plantas e arbustos. A casa estava lá o tempo todo mas era como se tivesse aparecido naquele momento. O velho açoitou o cavalo com um chicote e continuou o caminho sem se despedir. Lorena bateu palmas na frente do portãozinho e uma mulher: pode entrar! Tentou girar a maçaneta, estava fechada, bateu na porta pequena – parecia a casa dos sete anões – e nada. De novo a voz: aqui atrás!

Nos fundos da casa havia uma mesa coberta de imagens de São Sebastião flechado, Iemanjá de braços abertos e São Jorge a cavalo matando o dragão, crucifixos, velas brancas, bandejas com mangas, melões e melancias, abrigada à sombra
de uma mangueira de copa imensa.

– Finalmente a moça da cidade.

A voz guiou a vista de Lorena para cima, para um galho da árvore, onde se agarrava a velhinha miúda de vestido branco e cachimbo na boca que desceu pelo tronco com a rapidez de uma onça e esticou o braço à frente com a mão de pele grossa emborcada que a jovem, sem jeito, beijou.

Serviço:
“Quebranto”, de André Balaio
Quando: sábado, 10 de março
Horário: 17h às 21h
Onde: Casa Cultural Villa Ritinha,
R$ 40 | 128 páginas
Editora Patuá

Na próxima sexta-feira, dia 09 receberemos André Balaio no Programa Movimento da Rádio Jornal.
O "Literatura em Movimento" tem início às 21:30.

Igarassu comemora chegada de Duarte Coelho durante o mês

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Gravura: Pernambuco Imortal

No dia 09 de março, é comemorado o dia da chegada de Duarte Coelho em Pernambuco. O navegador chegou aos Marcos de Pedra, na cidade de Igarassu, em 1535 e marcou o início da história do estado. O município comemora a data com uma programação cheia de eventos, em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Igarassu. Atividades educativas nos Marcos de Pedra, inauguração de ruas, escolas, ações de saúde e muita programação para toda população.
O primeiro dia do mês foi marcado pela posse do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa , promovida pela Secretaria de Politicas Sociais,  e sanção de leis da Câmara Municipal, no Salão Nobre da prefeitura. E neste dia 02, às 10h, foi a vez da inauguração da escola Ana Caldas ( Secretaria Municipal de Educação) , em Cuieiras, que foi reformada e já está pronta para os alunos.
No decorrer do mês acontecerão também atividades em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no dia 08, com aula de dança e ginástica, caminhada,  palestras educativas e café da manhã ( Secretaria Municipal de Saúde e Executiva da Mulher) . Além de mais um Domingo da Gente ( Secretaria de Lazer, Esportes e Juventude) , no dia 11 e o encerramento do mês com a tradicional e emocionante Paixão de Cristo de Igarassu, com participação de muitos atores locais.

Calendário

AÇÕES DURANTE O MÊS DE MARÇO
01/03 – Posse do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa e sanção de Leis da Câmara Municipal – Salão Nobre PMI
02/03 – Inauguração da Reforma da Escola Municipal Ana Caldas Brandão 
08/03 – Dia Internacional da Mulher com 7h: aulão de ginástica e dança na Área de Lazer de Cruz – 9h Palestra educativa, logo após um café da manhã para as mulheres participantes / 18h30m – Missa de Ação e Graças da Comemoração da Chegada de Duarte Coelho
09/03 – Igarassu comemora a chegada de Duarte Coelho – 8h: Hasteamento da Bandeira, Hinos / sede da PMI/  9h : Atividades Educativas nos Marcos de Pedra (Pausa : 11h às 13h)/ 16h: Encerramento nos Marcos/ 18h: Entrega da Colina e recuperação dos Jambeiros no Sítio Histórico ( Secretaria de Meio Ambiente e Urbi) /19h: Sessão Solene com palestra alusiva ao dia 09 de março promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico de Igarassu na Câmara Municipal.
09 e 10/03 – Festa do Senhor do Bonfim –  19h ás 00h / Local: Comunidade Bonfim I, Próximo ao campo de amiguinho.
11/03 – Domingo da Gente / 10h ás 18h  – Local: Sitio Histórico
16/03 – Inauguração Saúde Mulher SESC (Saúde)
20/03- Inauguração do Complexo Regulador de Igarassu (Saúde)
23 e 24/03 – Festa de São José / 19h ás 00h –  Local: Vila Rural, próximo à quadra
28/03 – Inauguração da ESF Vila Rural (Saúde)
30,31/03 e 01/04 a partir das 19h – Paixão de Cristo / Local: Sitio Histórico

E mais:
Inaugurações da Secretaria de Cidade
* Maria de Lourdes (Vila da Chesf/Igarassu)
* 4ª Travessa Jacob Pinto de Freitas (Bom Retiro/ Cruz de Rebouças)
* Maria da Glória (Cruz de Rebouças)
* Goiás (Ana de Albuquerque/Igarassu)
Ordens de Serviço (OS)
*Santa Mônica (Santo Antônio /Cruz de Rebouças)
*Cruzeiro (Igarassu)
*Madalena Conceição (Monjope / Cruz de Rebouças)
* Lagoa do Ouro (Monjope / Cruz de Rebouças)

Data Magna de Pernambuco

A Data Magna do Estado de Pernambuco – 6 de março, dia da Revolução Pernambucana de 1817 –, foi estabelecida por iniciativa da Assembléia Legislativa de Pernambuco por intermédio da Lei nº 13.386, no dia 24 de dezembro de 2007. O Projeto de Lei, de autoria da deputada Terezinha Nunes, tem como objetivo evocar e homenagear os heróis da Revolução, proporcionar aos pernambucanos um maior conhecimento da sua história e reafirmar o amor pelo seu Estado.

A data foi escolhida entre cinco momentos históricos sugeridos pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano: 13 de janeiro (data da execução de Frei Caneca); 27 de janeiro (Restauração Pernambucana); 6 de março (Revolução Constitucionalista de 1817); 5 de outubro (Convenção de Beberibe) e 10 de novembro (Proclamação da República no Senado de Olinda). A eleição foi realizada por meio de uma pesquisa popular disponibilizada nos meios de comunicação: internet, rádios do interior do Estado, urnas e um canal interativo. Todo processo foi acompanhado pela Associação das Empresas de Radiofusão de Pernambuco.

A Revolução Pernambucana de 1817 foi deflagrada no dia 6 de março e é um marco da luta contra a opressão da Corte Portuguesa. Este movimento histórico foi liderado por Domingos José Martins, com o apoio de Antônio Carlos de Andrada e Silva e de Frei Caneca. Eles instalaram um governo provisório que tinha como propostas a proclamação da República, a extinção de impostos abusivos e a elaboração de uma Constituição para garantir direitos aos cidadãos, tais como: a igualdade de todos perante a lei, a liberdade religiosa e a de imprensa.

Com essas propostas, a Revolução conseguiu reunir representantes dos mais variados segmentos da sociedade, inclusive populares que também desejavam a emancipação política e a implantação de um governo republicano. A iniciativa fez com que a sociedade pernambucana, por aproximadamente dois meses, conhecesse uma nova realidade política.

Passado esse período, a Corte Portuguesa sufocou o movimento. Cercou a cidade do Recife por terra e mar, o que resultou na prisão e morte dos líderes da Revolução. A luta, entretanto, não foi em vão. Cinco anos depois foi proclamada a independência do Brasil.

Em 6 de março de 2008, foi realizada a primeira comemoração da Data Magna de Pernambuco. A Assembléia Legislativa entregou a Medalha do Mérito Democrático e Popular Frei Caneca, em sessão solene, aos governadores Eduardo Campos (Pernambuco), Cássio Cunha Lima (Paraíba) e Wilma Farias (Rio Grande do Norte).

Nas comemorações do ano de 2009, também houve entrega da Medalha Frei Caneca. Desta vez, foi para representantes da Maçonaria e da Igreja Católica, instituições consideradas pilares da Revolução de 1817, já que os grandes heróis do movimento delas faziam parte.

A instituição da Data Magna de Pernambuco, em 6 de março, vinha sendo alvo, desde 2009, de questionamentos sobre a obrigatoriedade de ser dia feriado. É que o Governo Federal, por intermédio da Lei nº 9.093, de 12 de setembro de 1995, autorizou os Estados a, além dos feriados nacionais e religiosos, estabelecerem um feriado civil para a comemoração de sua Data Magna. Os comerciantes discordavam do novo feriado porque traria prejuízo para a economia estadual. Depois de amplo debate entre parlamentares e o Sindicato dos Comerciários de Pernambuco, o Governo Estadual determinou que, a partir do ano de 2010, a Data Magna passasse a ser comemorada no primeiro domingo de março.

Fonte: BARBOSA, Virgínia. Data Magna do Estado de Pernambuco. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em:dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.